sábado, 28 de setembro de 2013

Algo de estranho embaixo das traves.

 
                                                            A posição de Felipão quanto ao goleiro  titular da seleção brasileira,  tem causado uma certa surpresa e algumas pulgas atras da orelha.

Me refiro ao goleiro Julio César que disputa a 2ª divisão do campeonato Inglês, não é o titular, portanto não vem jogando. Agora fraturou um dos dedos da mão esquerda, mas continua como nome certo e titular absoluto na posição na opinião do técnico brasileiro (basta se recuperar em tempo da lesão).

A insistência em utilizar o jogador como titular a qualquer preço, me faz achar que : Não temos ninguém que possa desempenhar  um bom papel  na posição fora o Julio (o que não é verdade), ou algo além do fator técnico está forçando tal decisão (forças ocultas) .

Julio César, tem todos os fatores já mencionados para estar fora dos planos de Felipão, sem contar que foi o principal protagonista da desclassificação da nossa seleção em 2010 contra a Holanda, após uma saída atabalhoada no 1º gol adversário e uma estranha apatia no lance do segundo tento holandês.

Face ao exagero de sua titularidade irrevogável e os fatos ocorridos no fatídico jogo Brasil X Holanda, seria leviandade demais da minha parte, achar que sua escalação é uma imposição ao técnico, vindo  de um escalão até mesmo superior à CBF ?

Provavelmente nunca iremos saber, mas não é possível justificar a escalação de Julio César ao se considerar somente os fatores técnicos, nem alegando que este é um jogador "confiável"(já deu mostras que não é) para uma  posição tão importante.

O lance na "gif" acima, mostra como foi grosseira a falha, tão grosseira que além de Julio César errar a bola ainda atrapalha  Felipe Melo, que provavelmente a cabecearia. Tirem suas próprias conclusões, mas o fato de ser hoje o  goleiro titular inquestionável da nossa comissão técnica ainda que parado e lesionado é para mim por demais "estranho".

sábado, 7 de setembro de 2013

Não é apenas uma bicicleta.




                                                                       Esta semana se Leônidas da Silva estivesse vivo, estaria completando 100 anos. Se notabilizou não só por sua imensa categoria, mas por haver usado e abusado de um movimento do futebol, conhecido por nós como bicicleta.

Um estudo realizado na Universidade Federal do ABC, fez uma análise biomecânica do movimento e para isso se utilizaram de um vídeo de uma bicicleta perfeita, aplicada durante uma partida.

Apesar de todos os recursos, treinamentos, evolução do condicionamento físico e quantidade de gravações de imagens que temos hoje, foi escolhida a bicicleta aplicada por Pelé como a mais perfeita e serviu de parâmetro para a classificação e definição do movimento.

O chute de bicicleta
Ramon Unzaga, nascido na Espanha, é considerado o realizador do primeiro chute de bicicleta em 1914. Ele migrou para o Chile e seu chute passou a ser chamado 'a chilena'. O jogador brasileiro Leônidas da Silva, o 'diamante negro', aperfeiçoou a bicicleta nos anos 30 e 40, e Pelé divulgou-a mundialmente nos anos 60 e 70 (Galeano, 1999). Este movimento não leva nem um segundo para ser realizado mas é cheito de detalhes que a primeira vista nós não percebemos. O tempo de movimento total do chute de bicicleta realizado pelo Pelé é cerca de 0,8 s: 0,3 s para gerar o impulso para saltar e ele fica no ar por cerca de 0,5 s. As principais fases do movimento do chute de bicicleta, ilustradas na Fig.1a, são:
1. O salto: Pelé posiciona-se de costas para a direção que pretende chutar a bola e para pular, seu centro de gravidade (CG), definido como o ponto onde a resultante de todas as forças peso pode ser considerada agindo, está projetado um pouco atrás de seu pé de impulsão. Isto lhe permite ganhar rotação, quando aplica uma força no chão que passa a uma certa distância do CG, para saltar como numa cambalhota. 
O produto entre a força aplicada e a distância entre esta força e o ponto de aplicação é chamado torque ou momento de uma força. A perna que irá chutar a bola é a mesma usada para impulsionar o corpo e é a última a perder contato com o chão. A outra perna sobe e roda em torno do quadril enquanto a perna de chute ainda está em contato com o chão. No início do movimento, seu CG está a uma altura de 0,92 m e alcança 1,39 m, um deslocamento vertical de 0,47 m, como mostrado na  Fig.1b.
2. A tesoura: Uma vez completamente no ar Pelé, numa sincronia espantosa com a trajetória da bola, eleva a perna que irá chutar a bola e movimenta a outra perna na direção oposta: como o movimento de uma tesoura; o que pode ser verificado pelos ângulos entre o tronco e a coxa de cada perna, mostrado na Fig.1c. Enquanto o movimento é realizado, a cabeça é mantida numa posição fixa porque ele deve olhar para a bola. 
Para facilitar a rotação da perna de chute, ele dobra o joelho desta, aproximando os membros do quadril, e estende completamente a perna somente antes do chute para chutar a bola o mais alto possível, como os atletas de salto ornamental fazem para girar mais rápido quando mergulham. A propriedade física sendo alterada é chamada inércia rotacional, a propriedade de um corpo de resistir à mudança de seu movimento angular. A inércia rotacional é calculada como o produto entre a massa do corpo e a distância ao quadrado do corpo ao centro de rotação. Diminuindo a distância de cada segmento ao quadril diminui a inércia rotacional do membro inferior como mostrado na Fig.1d. No ar, os braços são mantidos longes do tronco no plano frontal para intencionalmente aumentar a inércia rotacional do corpo na direção longitudional para atenuar qualquer pertrubação rotacional nesta direção, como os acrobatas de circo fazem quando andam em um corda segurando um bastão comprido em suas mãos.
3. A batida da bola: A perna, em alta velocidade, intercepta a bola acima da altura de uma pessoa de pé, e altera o movimento da bola. Então por um momento (veja o vídeo), parece que seu corpo pára no ar e somente as pernas giram em torno do quadril. Este fenômeno é devido ao movimento dos outros segmentos do corpo que movem-se mais rápido que o tronco: ainda que o CG do corpo inteiro descreva uma trajetória parabólica, como previsto pelas leis clássicas da Mecânica, o tronco (tronco CG) na verdade move-se mais devagar no seu ápice por cerca de 150 ms, como mostrado na Fig.1b. 
Este efeito é bem conhecido pelos bailarinos e pode ser observado em movimentos como o grand jeté (Laws & Harvey, 1994). Pelé chuta a bola a uma altura de cerca de 2,2 m e a velocidade da bola depois do chute é cerca de 8,9 m/s ou 32 km/h; não é um chute potente, mas a bola adquire uma  velocidade maior do que se tivesse sido cabeçeada.
Durante qualquer movimento humano no ar, ainda que se possa mudar a inércia rotacional e a velocidade angular de cada segmento e do corpo inteiro, o produto destas duas grandezas físicas, conhecido como quantidade de movimento angular ou momento angular, não muda para o corpo inteiro devido a uma lei fundamental de conservação em Mecânica: o momento angular de um sistema é constante se a soma dos torques externos agindo sobre o sistema é zero. Pelé parece violar esta lei durante sua bicicleta: no começo, logo após ele perder contato com o chão, parece que o corpo dele não está rodando e logo antes da batida da bola, sua perna tem um grande movimento angular. Esta aparente violação pode ser explicada se lembrarmos que o que está sendo inalterado é o produto entre velocidade angular e inércia rotacional. 
A Fig.1e mostra o momento angular do corpo inteiro e de cada uma das pernas durante a bicicleta. Ainda que a perna de chute tenha uma velocidade de rotação maior, a outra perna, rodando na direção oposta com uma velocidade menor, surpreendentemente espelha o momento angular da perna de chute de tal modo que a soma dos dois momentos permanece constante durante o movimento. Isto acontece porque a perna de chute está se movendo mais perto do CG do corpo do que a outra perna (o que siginifica uma menor inércia rotacional para a perna de chute). A Fig.1e revela a verdadeira tesoura no chute de bicicleta: os perfis dos momentos angulares das duas pernas perfeitamente simétricos. O resultado líquido durante o movimento inteiro é o mesmo: o momento angular total é constante, exceto quando parte dele é transferido para a bola no instante do chute como indicado na Fig.1e. Mas como Pelé saberia em qual velocidade ele deveria rodar a perna de tal modo a contrabalançar o momento angular da perna de chute sem perturbar o tronco? 
Figura 1. Análise do chute de bicicleta. Principais fases do chute de bicicleta: o salto (1), a tesousa (2) e a batida da bola (3) (a). Posição vertical do centro de gravidade, CG, do corpo inteiro e somente do tronco (b). Posição angular das pernas (c). Inércia rotacional da perna de chute (d). Momento angular do corpo inteiro e de cada uma das pernas (e). Os retângulos indicam períodos de mínima variação das curvas. 


Por mais incrível que possa parecer e considerando a velocidade que se concretiza uma bicicleta nos moldes acima (0.6 segundos), nosso cérebro está preparado para analisar todo o movimento e classifica-lo de imediato.

Talvez seja esse o motivo pelo qual, que quando vemos a ação, imediatamente  ficamos boque abertos sem palavras ou exclamamos algo que expressa nosso assombro. Isso acontece porque nosso cérebro já fez uma análise comparativa e entendeu o movimento como algo super-humano em relação a todos os fatores relacionados (tempo correto para inicio do movimento, velocidade, forças que agem no movimento, força motora etc).

O Estudo analisa o movimento em si, desde sua concepção até a sua conclusão (arremate para o gol), mas para sua execução perfeita, o inicio deste é feito  pelo atleta sem permitir erros e  sem sequer que ele se dê conta dos cálculos que realizou,  que confirma o alto grau de dificuldade e afere a genialidade do executor.  O inicio exato do movimento tem que acontecer 0,6 segundos antes da bola chegar ao ponto de arremate. O Atleta enquanto a bola viaja, calcula sua velocidade, altura, direção e queda para atingi-la no único ponto  máximo possível.


Cuidado!!! Quando comparar Pelé aos demais, não deixe de considerar todos os fundamentos do futebol. Ninguém teve tantos predicados e o "tempo de bola" perfeito, bem como movimentos absurdamente sincronizados que embelezam mais ainda seus lances. Alguns desses lances, jamais foram repetidos com tanta qualidade.